Uma breve reflexão sobre educação e sociedade



Tem-se observado, na realidade educacional atual, uma série de fatores que implicam na política educacional das escolas e do meio social. O senso comum, superficialmente, evidencia tendências negativas apontando como fator crucial para a questão da violência na escola, a falta de políticas pedagógicas empiristas nos centros educacionais, nas quais se parte do pressuposto de que a criança inicia sua formação para a vida a partir da escola, sendo tábula rasa a ser formulada.
Cartaz do documentário Apenas o Começo 
Fora do senso comum, temos ponderações a fazer: o conceito de família nem sempre foi o mesmo, sofreu alterações de acordo com o evoluir dos tempos. No século XIX, não existia os termos criança ou adolescente, a criança não tinha infância, era considerada um “adulto jovem”. A educação da criança não era assegurada pela família. Cedo as crianças se envolviam com os adultos em atos sociais tradicionais, de ajuda aos pais, nos labores habitacionais, no caso das meninas, e na conservação dos bens e negócios familiares, no caso dos meninos. Era deste modo que adquiriam conhecimentos e valores tidos como essenciais à sua formação.
Na época do Estado Novo, no Brasil, à esposa era incumbida a responsabilidade pela educação dos filhos, auferindo dependência econômica quase total do marido. Com o passar do tempo, a família sofreu grandes transformações, que já tinham sido inseridas noutros países já democratizados. Diminuiu o número de filhos por casal, o casamento tornou-se mais instável, maior número de divórcios, famílias monoparentais e reconstruídas, as mulheres passaram a ter uma atividade profissional, estudar até mais tarde e possuir independência econômica, relegando muitas vezes a maternidade para segundo plano.
No mundo contemporâneo, pais cada vez mais ocupados, mães cada vez mais responsáveis pela situação econômica familiar, e por isso, muitas vezes, menos atuantes nas responsabilidades educacionais da criança. Portanto, tais responsabilidades tem sido cada vez mais transferidas para os educadores, pois além de matérias escolares, dão conta de questões éticas e epistemológicas do ensino antes incubidos aos pais. Além disso, a forte atuação da mídia, com suas instigantes propostas “(des)educativas” e violentas tem moldado o caráter de nossos jovens, que para além da alienação trazida pelos meios de comunicação em massa, estão sendo envolvidos por um meio generalista e manipulador.
Cena do documentário Ser e Ter
Uma vez que educação significa conduzir, guiar... Temos uma divergência na abordagem de valores essenciais do ”eu”, enquanto ser humano.  Conclui-se, então, que a violência não é somente gerada e/ou reproduzida fortuitamente no interior da escola, ela decorre das práticas sociais que são constituídas na sociedade como um todo. É nas relações sociais que se pode considerar a origem da violência, é a partir destas relações reproduzidas no interior da escola que esse processo se constitui como determinante. Tomando ainda a escola como espaço social e de contradições, a violência se caracteriza como uma forma de recusa do próprio espaço escolar, isso evidencia também uma certa resistência em compreender a escola como um espaço para superação destas contradições. É mais do que necessário conhecer e debater as relações sociais na sociedade numa perspectiva do conhecimento escolar e da prática docente.
Há  muito a ser revisto e reavaliado por parte dos profissionais da educação e da comunidade escolar como um todo. Repensar a escola como uma parte do todo social e não como algo separado e alienado é essencial. Uma boa dica para começar a repensar tais práticas e ainda aproveitar o período de férias antes do começo de mais um semestre letivo é o documentário Ser e Ter, que acompanha professor e alunos em uma cidade do interior da França, e é um exemplo incrível de equilíbrio entre a aprendizagem de disciplina, valores, sociedade e “conteúdos escolares” (disponível no youtube), e o documentário Apenas o Começo, em que alunos da pré-escola são instigados a refletir e debater filosoficamente sobre assuntos que compõem suas realidades, que lhes causam incertezas, preocupação e sofrimentos, ajudando-os a pensar além dos convencionalismos sociais aos quais são diariamente expostos.

Por Alex Sandro Maggioni e Jéssica Bueno, bolsistas PET-Feevale


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