"Solidão" e "Não te amo mais", de Clarice Lispector
Por Bruna Espíndula
Analisei dois poemas da escritora Clarice Lispector: “Solidão" e "Não te amo mais”. O que mais me chamou a atenção, além do sentimento de “solidão”, é o fato de que o adulto sofre com o amor de uma forma singular: ao mesmo tempo que viver sem ele traz tristeza, esses sentimentos parecem andar junto com a felicidade, sendo eles dependentes uns do outros. Outro aspecto que está presente em seus trabalhos é o adulto como um ser triste e solitário, ideia que Clarice coloca em uma entrevista para Júlio Lerner, na TV Cultura, em 1977.
Solidão
Que
minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Para Clarice, a criança se diferencia do adulto porque possui a “fantasia solta”. Nesse sentido, a criança não convive com as amarras e os dogmas próprios da sociedade adulta, pois está imersa no seu mundo de fantasia, o que possibilita escapes da realidade. O adulto se torna triste e solitário, de acordo com a escritora, a qualquer momento da vida, bastando um acontecimento inesperado. O cotidiano também é um fato que desencadeia sentimentos negativos, especialmente por ser repetitivo ou cansativo. Isso fica claro na frase “eu não sou triste e solitária, tenho muito amigos e só estou triste hoje porque estou cansada”.
Não te amo mais
Não te amo mais.
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza que
Nada foi em vão.
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais…
(Obs.: Agora leia de baixo para
cima. Este poema tem interpretações distintas.)
Ser adulto e ser humano são condições muito delicadas, pois tanto situações grandes quanto pequenas, ou mesmo o simples fato de estar cansado, podem desencadear, em cada um, uma reação relacionada a sua rotina ou história de vida. Posso trazer, como exemplo, a pandemia que estamos enfrentando. O fato de não sabermos o que nos espera e o medo se espalhando fazem com que surjam sentimentos negativos sobre nossas próprias realidades de vida. O medo da solidão e o isolamento social nunca foram tão grandes, sendo este um momento propício para refletirmos sobre nossas relações e o cuidado com o outro. Para terminar, deixo uma reflexão:
O mal do século é a solidão, cada um de nós imerso em sua própria arrogância, esperando por um pouco de afeição. (Renato Russo)
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