Uzumaki: O terror em espiral de Junji Ito

Por Vitor Macedo

O autor de mangás Junji Ito pode ser considerado uma espécie de Stephen King japonês. Uzumaki é uma das suas obras mais famosas. Nela, o autor explora o tema de “espirais” através de diversos contos de terror. A história narra acontecimentos bizarros de uma cidade, até então pacata. Os personagens passam a encontrar espirais em todos os lugares da cidade, desde caracóis até nuvens no céu que lembram esse formato. Ao longo da narrativa, Junji Ito distorce a realidade por meio de simples detalhes, o que torna o terror ainda mais bizarro. Os elementos usados pelo autor fazem parte do cotidiano e este consegue explorá-los muito bem para criar uma história de terror que foge dos padrões ocidentais, que encontramos no cinema, por exemplo.

Nas mais de 600 páginas, conhecemos personagens que sofrem, direta e indiretamente, com a “maldição das espirais”. Aos poucos, a cidade inteira passa a sofrer com esses acontecimentos. A história inicia e apresenta lentamente os conceitos que, posteriormente, passam a ter tamanhos gigantescos dentro do universo de seu universo. Os desenhos de Junji Ito são tão marcantes quanto a própria narrativa e possuem grande importância, e o autor utiliza um traço muito marcante em mangás para causar grande impacto nos leitores, visto que o terror em mangás, ou quadrinhos, é algo fora do comum. Desse modo, o autor distorce corpos e traz um terror visual que assustaria por si só. Esse traço, em momento algum, é algo que podemos considerar apelativo tendo em vista a narrativa, isto é, as deformações e distorções fazem sentido na história, não é algo gratuito.

Conforme a história se desenvolve, e após o leitor passar por diversos contos que funcionam sozinhos, mas que, aos poucos, enriquecem essa mitologia do terror em espiral, chegamos no ápice da história, vivenciando um caos junto aos personagens, quando percebemos que não há saída para o terror. Aqui, percebe-se um grande diferencial na narrativa de Junji Ito quando comparamos, por exemplo, com filmes de terror ocidentais, onde, na maiorias das vezes, a “mocinha” é salva ou o casal principal consegue se salvar após passar por eventos que, por mais que faça parte de uma ficção, não têm “salvação”. Nessa história, e trago isso sem entregar o final, sentimos que a conclusão, assim como toda a jornada, não é algo simples e muito menos de fácil digestão. Na verdade, na primeira vez que li, durante o desenvolvimento da narrativa, a considerei uma história anticlimática. Após conseguir digeri-la, percebo a importância de histórias como essa. Histórias que fogem do padrão e, além de envolver, constroem uma mitologia e um universo diferente do que consumimos normalmente vindo do exterior.

Além dessa história, Junji Ito produziu diversas outras e contará com uma adaptação animada que sairá ainda em 2020. O trailer, você pode conferir logo abaixo.

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