Resenha do livro "Vidas desperdiçadas" de Zygmunt Bauman

Há muito tempo que o ser humano é responsável pelas mudanças acometidas na sociedade em que vive, o que gera tanto consequências boas quanto ruins. Para alertar um pouco a população das condições sociais em que vivemos e às quais somos submetidos, principalmente na modernidade, surge o livro “Vidas Desperdiçadas”, de Zygmunt Bauman, o qual prestigia qualquer leitor com um conteúdo incrível relativo a questões sociais que vêm acontecendo e que, por muitas vezes, não nos damos conta Condições perversas da sociedade são relatadas nas páginas da obra, principalmente no que diz respeito às exclusões que, mesmo sem saber, somos responsáveis (e vítimas também). O livro é divido em quatro capítulos, todos interligados. Trata-se de uma leitura complexa e diferente das que tem sido discutidas, fazendo-se necessária a todos aqueles que se preocupam com as condições às quais nos submetemos atualmente e, principalmente, aquelas que enxergam a deficiência de nosso sistema.

Uma das marcas presentes em várias páginas do livro é a conscientização de que nosso planeta está cheio dos meios usados pelos habitantes para viver, e não cheio de gente. Essa saturação deixa seus rastros perigosos para o ambiente – como o problema do lixo –, além da constante necessidade de acompanhar as tendências de uma sociedade consumista. Há algum tempo, é visto que o consumo está muito relacionado à felicidade e à satisfação. No entanto, percebe-se também que tudo é consumido muito rapidamente e impulsivamente – um vício –, e que, para muitas pessoas, a suposta solução para suprir essa necessidade seria comprar cada vez mais. O que muitos não se dão conta é que não existe um motivo para tais buscas senão a de se sentir pertencente a essa sociedade.

Junto a essa explanação, chega-se ao conceito de refugo humano (ou seres humanos refugados), já explicada nas primeiras páginas do livro. Esse conceito se refere a algo inevitável da modernização: as pessoas que não se encaixam nas demandas para conviver e ser útil ao mercado consumidor, sendo a globalização contribuinte nesse processo, uma vez que a pessoa, ao não colaborar, não faz parte da sociedade. No livro, há um destaque à geração X, sendo esta a que sofre os efeitos dos diferentes problemas vivenciados pelas gerações anteriores, como a depressão, difundida com a confusão, a desorientação e a perplexidade, conforme relatado no capítulo “No começo era o projeto”. Fica a dúvida na mente do leitor se a tendência é piorar ou se há uma solução para os problemas que enfrentamos.

As sociedades se estabelecem através de condições – as passadas, com mais clareza – que ficam gravadas nos sujeitos pertencentes a elas. Se analisarmos o livro de forma fria, vemos que não faz sentido o nosso modo de sobrevivência, principalmente na comparação entre natureza, mineração e ação humana. Além disso, é destacada a transformação do mundo que cresce junto com a modernização. Não se pode negar que muitas mudanças que acontecem ajudaram muito o desenvolvimento mundial, preconceitos que são considerados horrendos hoje vêm em decorrência dessas mudanças realizada por alguns movimentos que, na época, não eram tão bem aceitos. Ou seja, há benefícios.

Higienização é basicamente o que acontece nas nossas sociedades, mesmo que exista um movimento que lentamente lute por essas minorias e que, às vezes, passam por despercebidas. O fato é que há um excesso de informação que é pesado demais para ser destinada aos cérebros, o que pode ser inútil se não bem filtrado, podendo somar mais um ponto negativo. A exclusão, decorrente desta higienização, faz diminuir o ser humano, o que contribui para o objetivo da prática. Em poucas páginas, foram citados os coletadores de lixo, que são descriminados no nosso círculo - justamente eles, que possuem um papel importante para o meio ambiente, e que, embora não reconhecido por todos, contribuem também na economia. No entanto, não é isso que as comunidades querem: o que se deseja é o dinheiro, os eletrônicos, as roupas de marcas e tudo que seja tendência, para, depois de algum tempo, descartar – porque alguém, que não se sabe quem, vai consumir com isso –, para depois repetir o processo quantas vezes for preciso.

A leitura desperta questionamentos e indignação sobre a atual situação nacional e internacional. Por vezes, surge a vontade de largar tudo e a sensação de incompetência, de aprisionamento, de comodismo... Mas, por outro lado, este assunto se apresenta como o começo de um movimento para “abrir de olhos” das populações às reais necessidades enfrentadas por muitas pessoas e uma base para muitas mudanças que precisam acontecer no mundo. Apesar de ser algo demorado e difícil, ainda não se pode dizer que as esperanças estão mortas, já que este é um compromisso social a ser cada vez mais aprofundado por profissionais atuantes nesse âmbito e pessoas interessadas em sair da área de conforto.

Texto: Gilson Leonardo Barth

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