Onde é que se esconde a atitude filosófica quando crescemos?


         O que, por que, como e para que, as perguntas essenciais da Filosofia. Perguntas que nos remetem às indagações pueris. Todos nós em maior ou menor medida, utilizamos de tais indagações quando crianças. O curioso é a maneira como com o passar dos anos, ao invés de aprimorarmos o hábito, tornando-nos experientes na arte filosófica, acontece o contrário: elas passam a ficar cada vez mais raras em nosso dia a dia.   Quando somos crianças, temos muitas questões, mas com o passar do tempo, começamos a perceber essas perguntas como marca própria do mundo infantil. Adultos não costumam fazer tantas perguntas, pelo contrário, os adultos possuem as respostas. E toda a criança deseja ultrapassar a barreira infantil, chegar ao nível do adulto, que tudo sabe, que tudo pode.
Na escola o aluno que muito questiona, que não aceita ou não se adequa aos modelos prontos de aprendizagem aos quais é apresentado, geralmente é punido. No contexto doméstico, idem. A criança deve agir de determinada forma pois é a forma correta. Adultos que não praticam questionamento, muito dificilmente serão estimuladores da curiosidade e da criatividade, que passam longe da estrutura de pensamentos e atitudes pré-moldadas. É nesse contexto que jovens são impelidos a possuir a maior quantidade de “conhecimento”, em menor tempo. É provavelmente por causa da supervalorização de posicionamentos que a sociedade impõe, que nos fechamos para o exercício filosófico, deixando de amadurecer ideias e optando pela aceitação de concepções prematuras. Ao ser indagada sobre a obra de Shakespeare ou sobre o atual governo, tudo o que preciso é de um posicionamento claro e convincente. No entanto, convencer alguém sobre algo é praticar um exercício retórico que geralmente leva a um labirinto que impossibilita relativizar opiniões, pensamentos e ideias.

Possuir um posicionamento coerente, não devemos esquecer, é diferente de possuir um posicionamento imparcial, que não permite relativizações. E quem não se preocupa em relativizar, em refletir, repensar questões, mostra que se importa mais com a quantidade do que com a qualidade de suas afirmativas.  Temos de ter essas respostas para ontem! Não podemos ser pegos desprevenidos! E qual é o caminho mais fácil e rápido de adquirir tantas respostas? O da irreflexão, o da superficialidade, o da aceitação e incorporação de respostas prontas, pensadas por outros, ao nosso repertório. É assim que, na maior parte do tempo, nos posicionamos em relação à vida. A boa notícia é que embora difícil nunca é tarde para optar por um pensamento mais relativizante sobre nós mesmos e o mundo que nos circunda.




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