Por que ler a “Poética” de Aristóteles?
Por Iago Ramon Möller
Se “foi por conta do espanto e do assombro que os homens começaram a filosofar”, como acreditava Aristóteles (384-322 a.C.), também é verdade que o trabalho dele foi muito além da solução de problemas filosóficos e da investigação de mistérios do mundo.
Se “foi por conta do espanto e do assombro que os homens começaram a filosofar”, como acreditava Aristóteles (384-322 a.C.), também é verdade que o trabalho dele foi muito além da solução de problemas filosóficos e da investigação de mistérios do mundo.
Conta o autor José Francisco Botelho, na publicação “A odisseia da Filosofia”, que Aristóteles, diferentemente do mestre Platão, nutria um fascínio por tudo o que existia: para ele, nada era tão insignificante que não merecesse sua curiosidade. Isso explica porque quase todos os assuntos importantes do tempo do filósofo encontram lugar em sua obra, ou ao menos o que restou e pôde ser reunido, mais tarde, no compêndio chamado Corpus Aristotelicum. Além de trabalhos sobre a lógica, obras ditas científicas, reflexões puramente filosóficas e escritos sobre ética e política, são igualmente importantes seus dois tratados de estética: A Retórica e A Poética.
É de se espantar que, 23 séculos depois, a Poética de Aristóteles, o primeiro tratado sobre as formas literárias, cênicas e narrativas da tradição ocidental, ainda seja, ao mesmo tempo, um dos mais importantes para a Teoria da Literatura. Não é raro – e nem deveria ser – que autores e ministrantes de oficinas literárias se refiram constantemente à obra.
Charles Kiefer, por exemplo, em seu livro “Para ser escritor”, recorre à lição do “velho da Estagira” para lembrar o leitor de narrar apenas o que é verossímil e necessário, e de que “o universal decorre do encadeamento causal que estrutura a ação e se configura naquilo que responde às exigências do espírito ou à expectativa comum de todos os espíritos”.
Achou complicado? Bem, é fato que Aristóteles trabalha com uma série de conceitos que podem ser desconhecidos e soar confusos para os iniciados no estudo da Teoria da Literatura, como as ideias de mimese, catarse, peripécia ou verossimilhança. Por outro lado, por se tratar de uma fonte primária para a teoria literária e ser uma obra muito antiga e largamente difundida, o que não falta são artigos capazes de auxiliar a leitura, muitas vezes disponíveis de forma gratuita na internet.
Uma boa ideia é investir em uma edição bilíngue e comentada da obra, como a lançada pela Editora 34 e traduzida por Paulo Pinheiro, professor de Estética e Filosofia, este também responsável pela introdução e pelas extensas notas que permeiam o livro e se esforçam em decifrar e até contestar as ideias do filósofo.
Quanto à pergunta fundamental desta postagem, entende-se que é imprescindível a leitura desta obra, tão concisa quanto essencial, àqueles que se interessam pelo estudo da Arte e, em especial, da Literatura, porque é a partir do trabalho de Aristóteles que se adquire as noções básicas à compreensão de tratados posteriores e análises literárias de qualquer período da história ocidental.
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