Schopenhauer e o pensamento próprio
Ao leitor que não perde um minuto livre sem um livro nas mãos, atenção: as palavras de Arthur Schopenhauer (1788-1860) contidas no ensaio “Pensar por si mesmo” podem soar polêmicas ou até ofensivas.
O filósofo alemão, um crítico voraz da escrita e do pensamento de Hegel – o filósofo mais famoso na Alemanha àquela altura –, autoproclamado kantiano e mais reconhecido pela publicação de obras como O mundo como vontade e representação (1819) e Parerga e Paralipomena (1851), dedicou alguns de seus ensaios à arte da escrita. É justamente em um destes, “Pensar por si mesmo”, que Schopenhauer estabelece uma espécie de hierarquia na qual coloca o pensamento próprio acima tanto da mera experiência quanto da leitura.
Por meio de diferentes comparações, o autor reduz a leitura a um mero substituto do pensamento próprio, uma solução apenas para quando a fonte dos pensamentos próprios seca, dizendo ainda que “renegar os pensamentos próprios, originais, para tomar um livro nas mãos é um pecado contra o Espírito Santo. É algo semelhante a fugir da natureza seja para visitar um herbário, seja para contemplar belas visões em gravuras”. Ao mesmo tempo, no que se refere a críticas à mera experiência, defende que “quando a experiência se vangloria de que somente ela, por meio de suas descobertas, fez progredir o saber humano, é como se a boca quisesse se gabar por sustentar sozinha a existência do corpo”.
O discurso soa um tanto áspero? Façamos justiça: o fato é que, para o pensador, “uma grande quantidade de conhecimentos, quando não foi elaborada por um pensamento próprio, tem muito menos valor do que uma quantidade bem mais limitada, que, no entanto, foi devidamente assimilada”. A ideia por trás das críticas de Schopenhauer é que o processo precisa começar pelo pensamento próprio e depois partir para a leitura, e não o contrário.
A ideia inicial era de recomendar, ao leitor que deseja corroborar ou contestar as ideias do filósofo, os cinco ensaios - originalmente publicados em Parerga e Paralipomena - presentes no breve compêndio A arte de escrever, sendo eles: “Sobre a erudição e os eruditos”, “Pensar por si mesmo”, “Sobre a escrita e o estilo”, “Sobre a leitura e os livros” e “Sobre a linguagem e as palavras”.
Mas, pensando bem... Pense profundamente a respeito. Se a “fonte” secar, já sabes onde ir.
Autoria: Iago Möller, estudante de Letras e bolsista PET-Feevale.
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