Ironias do Tempo de Luis Fernando Veríssimo

Por Ailton Siqueira

    O livro Ironias do Tempo, organizado por Adriana e Isabel Falcão, é uma antologia que reúne várias crônicas de Luis Fernando Veríssimo, célebre escritor brasileiro que possui livros publicados em mais de 15 países, incluindo alguns best-sellers. A ideia que permeia a seleção de crônicas teve como personagem principal o tempo, que para a organização da obra também serviu como critério de escolha dos textos.

    Mãe e filha, Adriana e Isabel Falcão foram as responsáveis pela organização da obra, que é a última publicada em formato de livro a envolver textos de Veríssimo. Adriana, escritora e roteirista, trabalhou com o autor nos últimos 20 anos auxiliando-o nos processos de escrita e por vezes assumindo a coautoria de algumas obras. Isabel, formada em letras e com mestrado em estudos literários, certamente foi influenciada pelo autor, de quem é fã desde criança, quando se correspondia com ele através de cartas. Juntas, escolheram as crônicas que compõem a antologia, utilizando os 20 anos que se passaram entre 1998 e 2018 como fator que guiaria suas decisões.

Luis Fernando Veríssimo, nome que integra a lista dos maiores cronistas brasileiros, ao lado de Lima Barreto, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Caio Fernando Abreu, entre outros, nasceu em Porto Alegre em 26 de setembro de 1936. Filho de Érico Veríssimo, também escritor, Luis Fernando é também cartunista, tradutor, roteirista de televisão, revisor, já foi publicitário e ainda é saxofonista, integrando alguns grupos musicais de jazz. Conquistou importantes prêmios nacionais e internacionais como escritor, a exemplo do Prêmio Juca Pato e o Prêmio Jabuti de Literatura. Entre suas obras mais famosas estão Ed Mort e Outras Histórias, O Analista de Bagé, Comédias da Vida Privada, entre outras. Atualmente, aos 83 anos, ainda escreve semanalmente para os jornais O Globo e O Estado de São Paulo.

    A obra Ironias do Tempo, por sua vez, é formada por 77 crônicas do autor e, como características típicas do gênero literário, trata-se de textos narrativos curtos, em geral com marcas de humor, comparações inusitadas, uso de linguagem simples, com poucos ou nenhum personagem e que abordam acontecimentos corriqueiros do cotidiano, como fatos políticos, escândalos, desastres e situações banais abordadas sob a ótica particular e criativa do cronista, simplesmente por estar observando a sociedade. No caso desta coletânea de crônicas, além das situações já citadas destacam-se as análises de Luis Fernando Veríssimo sobre futebol (“Técnicos e Lâminas”, p. 19-20, “Comparando eras”, p. 183-184), sua certa obsessão pela origem e significado das palavras (“Esdruxulices”, p. 44-45), sua admiração por Patrícia Pillar (“Vi”, p. 166-167), seu humor (“O vovô espião”, p. 107-109), suas sátiras à religião (“A recepção”, p.112-113), sua imaginação sobre como será o futuro (“Volta e Ida”, p. 191-195) e histórias comuns de uma época localizada no tempo – 1998 a 2018 – e no espaço – Brasil e Mundo.

    No que tange às tais ironias do tempo, expressão que dá título à obra, acredito que se refira aos fatos que, ao longo do tempo, tomaram rumos inesperados ou absurdos quando vistos em retrospectiva, ou ainda a outros fatos passados que, mesmo com o passar do tempo, continuam atuais. Como exemplo dessas ironias segue trecho da crônica intitulada “Pelo Computador” (p. 181):

“Em 2018 teremos eleições, e a oportunidade de renovar a política brasileira de cima a baixo. Ou, pelo menos, de melhorar a qualidade dos nossos políticos, mesmo que alguns dos condenados e execrados de hoje consigam se reeleger. Das unas eletrônicas de 2018 sairá certamente um Brasil melhor. Inclusive porque pior ele não pode ficar.”

    Da mesma forma não imaginava Veríssimo que o que escreveu numa crônica de 2001 (“Grampos”, p. 21-24), que retratava a aflição de um político corrupto que teve o telefone grampeado poderia ser tão atual no cenário político brasileiro.

    E assim a leitura da obra flui com a leveza na linguagem típica do gênero, e o tempo que vamos passando com Veríssimo deixa claro porque seus textos são lidos mundo afora e como o cotidiano, mesmo comum e corriqueiro, pode ser cheio de tantos significados.


Referências: 
www.brasilescola.uol.com.br 
www.todamateria.com.br 
www.infoescola.com 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"A chegada" e o amor fati de Nietzsche

Uzumaki: O terror em espiral de Junji Ito

Resenha do livro "Vidas desperdiçadas" de Zygmunt Bauman