MAUS - Um dos maiores quadrinhos sobre as nossas (DES) Humanidades

Por Vitor Macedo

    Maus foi um quadrinho publicado ao longo de doze anos, dividido em dois volumes entre 1991 e 1986. Art Spiegelman o escritor e desenhista da série de quadrinhos retrata no quadrinho a biografia do pai judeu que viveu o período da Segunda Guerra Mundial, o quadrinho ganhou o prêmio Pulitzer em 1992, fato que nunca havia acontecido com uma história em quadrinhos.

    Maus vai além de uma história biográfica em formato de quadrinho, a obra explora seus recursos visuais de maneira muito criativa, refletindo os acontecimentos da época e da história de seu pai através de simbolizações e metáforas. Art Spiegelman retrata o seu trabalho jornalístico/historiador com seu pai, desse modo as conversas com seu pai são retratadas, momentos com sua esposa entre outras coisas do cotidiano de Art e quem está a sua volta.


    Esse processo de contar sobre o seu cotidiano faz com que Maus por meio de metalinguagens muitas vezes questiona a sua própria existência. Muitas vezes Art aparece triste na história, mesmo com todo sucesso do primeiro quadrinho lançado na época. Um quadrinho que é resultado de um dos piores capítulos da história da humanidade. A história tem consciência de ser um quadrinho e apresenta isso com reflexões e autocriticas.

    As páginas de maus exploram os recursos visuais representando a situação em que os personagens estão, como por exemplo, os pais de Art fugindo e encontrando uma encruzilhada em formato de suástica. “Maus” em alemão significa “rato”, Art retrata judeus como ratos e nazistas como ratos, além de outros animais para representar outras personificações. 

    Vladek Spielgelman, pai de Art, é representado como o estereotipo de judeu carrancudo e teimoso. Muitas vezes a história cai em um tom cômico por conta das discussões entre o escritor e seu pai, porém ambos apresentam uma sincronia ao longo da história. No primeiro capítulo Vladek pede a Art para não colocar na narrativa acontecimentos que ele acabara de contar por não ser relacionado a Segunda Guerra, momentos como esse enriquecem a história. Não pela teimosia do autor com seu pai, mas de torna-la mais viva.

    Vladek detalha todos os momentos de gato e rato que ele e sua mulher Anja passaram. Em nenhum momento Maus procura romantizar qualquer vivência no período da Segunda Guerra que Anja e Vladek tiveram. Ao longo dos capítulos as situações de gato e rato aumentam. Quando tudo parece normalizar, a desumanização do período reaparece e novamente as vidas dos ratos estão nas patas dos gatos.

     Aos poucos o quadrinho contextualiza a época em que os pais de Art viveram, demonstrando os detalhes do começo do Nazismo com pequenas manifestações até a ascensão do grande gato. Não quero entrar nos detalhes e reviravoltas da história contada por Art para não estragar uma futura leitura, mas ao longo de sua jornada escrevendo a sua relação com seu pai e a biografia deste, o autor desenvolve uma obra que provoca reflexões sobre o formato em si da produção através de uma excelente narrativa visual, mas além da arte questiona a natureza do ser humano. A sua natureza de escritor “escorando-se” nas tragédias de um período desumano através das histórias de seu pai e sua família, a de seu pai, homem honrado e que não desistiu da família mesmo sofrendo as atrocidades nazistas, e o perigo de uma gataria “amparada” por extremismos idealizados por grandes gatos.

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